21 setembro 2006

Parabéns Barbosa du Bocage


O que me fez dar o parabéns a Bocage? Bem, porque há pouco tempo tive uma troca de ideias sobre a língua portuguesa. A questão baseava-se somente no que se deve ou não escrever, mas vá-se lá saber porquê, falou-se mais do "linguajar" e pouco da escrita. A verdade é que desta troca nasceu a ideia e resolvi homenagear aqueles que têm orgulho na língua portuguesa. Entenda-se aqui por língua portuguesa a Gíria. Digo entenda-se porque existe uma diferença muito grande entre falar português e falar usando como bengala a gíria (quem não concordar, pode sempre comentar) e CONTRA mim falo pois também a uso.

Meus Caros deleitem-se com Bocage, leiam alto e em bom som os seus sonetos, façam tertúlias para os declamar. Se alguém vos perguntar porque estão a dizer tamanhas barbaridades respondam com convicção: "Por acaso não reconheceis nas minhas palavras, as de Manuel Barbosa Du Bocage? Como podeis dizer que isso são barbaridades? Porventura não é português?"

Antes que perguntem, quem é esse "gajo"?, Bocage era um poeta lírico neoclássico portugês (há quem não partilhe desta opinião). Diz-se que tinha como pretensão vir a ser um segundo Luis Vaz de Camões. Nasceu em Setubal em 15/09/1765 e morreu em Lisboa em 21/12/1805, com 40 anos vítima de um aneurisma. Diz-se que levou uma vida bastante agitada.

Bocage tornou-se polémico pelos seus poemas eróticos, claro está que escreveu outros convencionais. Para os curiosos que queiram mesmo ler um pouco mais cá fica um link:
http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/bocage.htm

Para aqueles que preferem saber muito mais sobre o autor bem como ler outros tipos de sonetos, visitem a página do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas.

Eis então alguns sonetos e parabéns Bocage que já fizeste anos.


[SONETO DE TODAS AS PUTAS]
Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.


[SONETO DE TODOS OS CORNOS]
Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Corníssimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos têm reinado.

Siqueu foi corno, e corno de um soldado:
Marco Antonio por corno perdeu a c'roa;
Anfitrião com toda a sua prol
Na Fábula não passa por honrado;

Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga letra da gazeta
E entre mil cornos expirou vaidoso;

Tudo no mundo é sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso
Que isto de ser corno é tudo peta.


[SONETO DO PRAZER MAIOR]
Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura;
Depois da meia-noite na janela:

Fazê-la vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertá-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.

[SONETO DO PRAZER EFÊMERO]

Dizem que o rei cruel do Averno imundo
Tem entre as pernas caralhaz lanceta,
Para meter do cu na aberta greta
A quem não foder bem cá neste mundo:

Tremei, humanos, deste mal profundo,
Deixai essas lições, sabida peta,
Foda-se a salvo, coma-se a punheta:
Este prazer da vida mais jucundo.

Se pois guardar devemos castidade,
Para que nos deu Deus porras leiteiras,
Senão para foder com liberdade?

Fodam-se, pois, casadas e solteiras,
E seja isto já; que é curta a idade,
E as horas do prazer voam ligeiras!

Espero ter animado o vosso dia.

Rest my case