26 janeiro 2008

A Casa Mimosa

Narciso Moreira da Silva, 35 anos, solteiro, filho de pai incógnito e de mãe desprendida, nasceu e cresceu na Merdolândia. Assim chamava à sua terra. Aos 14 anos conhecia os bêbados todos e já frequentava a casa de Dª Hiponina, mulher que vivia dos serviços prestados àqueles homens que queriam dar mais de uma por mês e cujas mulheres achavam, que era muito. Escusado será dizer que também frequentava a casa do Dr Ventura, médico da aldeia, que conhecia como a palma das suas mãos os esquentamentos de cada um.

Aos 17 anos já sabia nomes como putas, meretrizes, rameiras e achava que as mulheres ou eram assim ou eram como a sua mãe. Aos 20, já não ia à Dª Hiponina. Frequentava a “Casa Mimosa” que possuia no wall uma placa cujo o escrito dizia assim:

“As nossas meninas não dão fiado, nem com a boca nem com a mão.”

Já a noite ia alta quando os ânimos se exaltaram na Casa Mimosa. No andar de cima ouviam-se passos apressados e vidros a partirem-se. O silêncio foi imediato pois todos queriam saber o que se passava e eis que, as vozes tornaram-se claras.
- Puutaaaaaa, cabraaaa, anda cá.
- Deixaaaa-me, larrrrrga-me.
- Anda cá raaaameiiiraaaa.

Ninguém queria acreditar. Mas era a voz do Narciso. Dª Mimosa não sabia se havia de subir, gritar ou desmaiar. Uma revolução daquelas, na sua casa, era mau para o negócio e daria um mau nome à casa. De repente, reconhece a outra voz e diz calmamente:
- Não preocupem, está com a Rosário.

Ouviu-se um suspiro geral de alívio e muito baixinho ouviam-se comentários como:
- AH! A Rosário doma o gajo.... – A Rosário enfarda-lhe e parte-lhe os dentes todos...
- Coitado do Narciso, foi com a Rosário.
Novo silêncio.
- Aiiiiiii cabra que me morrrrdeste, essa merrrda não serve para isssso. Vá lá Rosarinho, põe-te lá de gatas.
- Pensas que sou o quê Narciso? Alguma cadela, hein?!!!! Onde é que já se viu!!!!

Eu ouvi bem!!! De gatas!!!!! Realmente isso não é coisa que se peça a uma flôr. Dizia Dª Mimosa. Nem eu no tempo em que ainda aviava uns, recebi tamanho insulto. Isto é uma casa séria, as minhas flores não são regadas assim. Que ele fure os buracos todos tudo bem, agora de gatas não. Isto acaba aqui e agora. Quando dava os primeiros passos para pôr cobro aquela vergonha, dá conta que os berros tinham parado e lá de cima ouvia-se:
- Narciiiiisooooooo...
- Rosárioooooooooo.....Ó minha flôr... Ó meu canteiro....
- Narciiiiiisoooooooooooooooooooo, larga-me os cabelos, Narcisoooooooooooooooooo.
- Pára de dizer o meu nome que estou concentra tra tra tra tra tra....do....
- E então Rosarinho minha flôr?
- Aiiii Narciso, se jurares que me tratas sempre por “Rosarinho minha flôr”, eu prometo que tenho sempre aqui um prato, para tu partires e eu apanhar o cacos.
- Ai Rosário que me vais obrigar a estudar.