11 setembro 2009

Quero fazer parte do Poema


Quero fazer parte do poema mesmo que este não tenha história,
Não quero fazer parte das palavras que são o meu espelho,
onde por vezes me reconheço e me sinto velho,
quando no fundo sei, que vagueio nelas, à procura da minha glória.

Quero fazer parte do poema onde o só não é mencionado,
Nem as palavras que me trazem o passado de dor.
Por isso, não quero fazer parte das palavras que são o meu fado,
Mas sim do poema que me enaltece e faz de mim vencedor.

Mesmo que ande à deriva, sem porto seguro,
Mesmo que procure o perfeito e só encontre a tempestade,
Mesmo que lute, que conheça a derrota, que não preveja o futuro,
Quero fazer parte do poema onde está a minha metade.

Quero fazer parte do poema que alguém vai declamar,
Quero fazer parte do poema que de mim vai falar,
Quero fazer parte do poema sem a dor de amar,
Não quero fazer parte das palavras pois essas, fazem-me calar.

07 julho 2009

Entre o Sono e o Sonho


Entre o sono e o sonho casa a ideia com a memória
Ergue-se a faculdade do espírito que em glória
Guarda ideias amaradas à imagem da lembrança
De uma recordação passada, de tempos de abastança

Entre o sono e o sonho, vive o estado fisiológico
Da insensibilidade dos sentidos do ilógico
Num sono eterno, de justos sem juramento
Onde a utopia abraça a imaginação sem fundamento

Entre o sono e o sonho, está o bolo fofo e doce
De farinha, ovos, frito em azeite e mergulhado em calda que adoce
Ideias quiméricas vividas num sonho imenso
Em que o ronco turbulento, denuncia um sono intenso

Entre sono e o sonho, vive a mestria com que o sonho conduz o sono
levando o corpo, a mente, ao mais profundo abandono,
aproveitado pelo colectivo para rir, cantar, dançar, ser feliz
no seu sono e sonho por ninguém roubado, nem pelo que diz

Entre o sono e o sonho, está o Eu criança,
pintado num sonho imenso, reflectido no sono colectivo
que depois de acordado, fica a ideia, a imagem e a memória
contados em segredo ou praça, alimentando a alma em forma de história

07 março 2009

Calada

Na calada da noite vagueava calada sem rumo trazendo no rosto um olhar calado e sem brilho que era o prenúncio calado, da alma triste.
Calada parada estava, olhando o norte, à espera da tempestade que calada teimava em não vir, mas já há muito esperada no calado coração que teimava em fazer-se sentir.

Calada estava, Calada, à espera que a gota caísse calada, para não acordar aquelas que caladas espreitavam pela janela, sem sequer ouvir o calado vento que passava, mas que Calada sentia roçar no seu rosto pálido, fazendo abanar o seu corpo franzino.

Calada estava a noite que no seu céu não deixou brilhar a mais pequena estrela, que ao longe calada se queria mostrar. Assim permaneceu Calada, horas e horas tentando perceber o que se passava.


Retrocedeu os mesmos passos que antes dera para ali chegar e sentou-se no chão da varanda ao lado da cadeira ocupada pela cadela, que calada também estava. Levantou-se mansamente, desceu, aninhou-se no colo de Calada e antes de pousar a cabeça, lambeu-lhe o rosto e retirou as gotas do esforço dispendido para ali chegar. Olhou-a fixamente, soltou um uivo que quebrou o calado silêncio. Calada encheu o peito de ar e deixou escapar um suspiro que na calada da noite se juntou em coro ao uivo que teimou em quebrar o calado silêncio. Calada assim ficou.

Assim ando Eu por estas bandas, calada, quebrando o silêncio de vez em quando com um uivo, expresso num pequeno texto.