Narciso Moreira da Silva, 35 anos, solteiro, filho de pai incógnito e de mãe desprendida, nasceu e cresceu na Merdolândia. Assim chamava à sua terra. Aos 14 anos conhecia os bêbados todos e já frequentava a casa de Dª Hiponina, mulher que vivia dos serviços prestados àqueles homens que queriam dar mais de uma por mês e cujas mulheres achavam, que era muito. Escusado será dizer que também frequentava a casa do Dr Ventura, médico da aldeia, que conhecia como a palma das suas mãos os esquentamentos de cada um.
Aos 17 anos já sabia nomes como putas, meretrizes, rameiras e achava que as mulheres ou eram assim ou eram como a sua mãe. Aos 20, já não ia à Dª Hiponina. Frequentava a “Casa Mimosa” que possuia no wall uma placa cujo o escrito dizia assim:
Aos 17 anos já sabia nomes como putas, meretrizes, rameiras e achava que as mulheres ou eram assim ou eram como a sua mãe. Aos 20, já não ia à Dª Hiponina. Frequentava a “Casa Mimosa” que possuia no wall uma placa cujo o escrito dizia assim:
“As nossas meninas não dão fiado, nem com a boca nem com a mão.”
Já a noite ia alta quando os ânimos se exaltaram na Casa Mimosa. No andar de cima ouviam-se passos apressados e vidros a partirem-se. O silêncio foi imediato pois todos queriam saber o que se passava e eis que, as vozes tornaram-se claras.
- Puutaaaaaa, cabraaaa, anda cá.
- Deixaaaa-me, larrrrrga-me.
- Anda cá raaaameiiiraaaa.
- Puutaaaaaa, cabraaaa, anda cá.
- Deixaaaa-me, larrrrrga-me.
- Anda cá raaaameiiiraaaa.
Ninguém queria acreditar. Mas era a voz do Narciso. Dª Mimosa não sabia se havia de subir, gritar ou desmaiar. Uma revolução daquelas, na sua casa, era mau para o negócio e daria um mau nome à casa. De repente, reconhece a outra voz e diz calmamente:
- Não preocupem, está com a Rosário.
- Não preocupem, está com a Rosário.
Ouviu-se um suspiro geral de alívio e muito baixinho ouviam-se comentários como:
- AH! A Rosário doma o gajo.... – A Rosário enfarda-lhe e parte-lhe os dentes todos...
- Coitado do Narciso, foi com a Rosário.
Novo silêncio.
- Aiiiiiii cabra que me morrrrdeste, essa merrrda não serve para isssso. Vá lá Rosarinho, põe-te lá de gatas.
- Pensas que sou o quê Narciso? Alguma cadela, hein?!!!! Onde é que já se viu!!!!
- AH! A Rosário doma o gajo.... – A Rosário enfarda-lhe e parte-lhe os dentes todos...
- Coitado do Narciso, foi com a Rosário.
Novo silêncio.
- Aiiiiiii cabra que me morrrrdeste, essa merrrda não serve para isssso. Vá lá Rosarinho, põe-te lá de gatas.
- Pensas que sou o quê Narciso? Alguma cadela, hein?!!!! Onde é que já se viu!!!!
Eu ouvi bem!!! De gatas!!!!! Realmente isso não é coisa que se peça a uma flôr. Dizia Dª Mimosa. Nem eu no tempo em que ainda aviava uns, recebi tamanho insulto. Isto é uma casa séria, as minhas flores não são regadas assim. Que ele fure os buracos todos tudo bem, agora de gatas não. Isto acaba aqui e agora. Quando dava os primeiros passos para pôr cobro aquela vergonha, dá conta que os berros tinham parado e lá de cima ouvia-se:
- Narciiiiisooooooo...
- Rosárioooooooooo.....Ó minha flôr... Ó meu canteiro....
- Narciiiiiisoooooooooooooooooooo, larga-me os cabelos, Narcisoooooooooooooooooo.
- Pára de dizer o meu nome que estou concentra tra tra tra tra tra....do....
- E então Rosarinho minha flôr?
- Aiiii Narciso, se jurares que me tratas sempre por “Rosarinho minha flôr”, eu prometo que tenho sempre aqui um prato, para tu partires e eu apanhar o cacos.
- Ai Rosário que me vais obrigar a estudar.
17 comentários:
Oi miuda, contentissimo por te ter de volta :)
Vou-te fazer um elogio que provavelmente vais receber muito mal:
Eu raramente leio livros de palavras, mas li e continuo a reler uma e outra vez, toda a colecção do Sven Hassel, um Dinamarques que (supostamente) esteve em várias frentes da II Guerra Mundial e tem uma visão muito peculiar sobre o Adolfo...
Pois o que me deste a ler fez-me primeiro sorrir bastante e depois receber-te com a mesma satisfação neo-realista com que recebo o Sr Hassel, enriquecido pela atenção que colocas também no decorar de cada sentimento, introduzindo-nos obrigatoriamnte numa dessas camas, presos na ansia gritada até a D. Mimosa nos sossegar.
Gostei muito miuda, mesmo muito.
Parabéns.
Beijo grande
Oi sua menina que bom seu retorno e com um texto belíssimo!
AH, as putas... kkkk
bjs
O Sibarita
gostei muito. foi agradável. Beijinhos.
I'm back e pelos vistos tu também.
Sem palavras para descrever o que sinto ao te reler...
Beijos mil.
'A CASA MIMOSA'
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Certamente uma casa que não apanhava sol, e consequentemente, cheia de 'mimos'.
Fica bem.
E a felicidade por aí.
Manuel
Bem vinda ao mundo da escrita!!! O post ta "nice"... gostei de voltar a ler-te.
Bjs meus
um texto muito bem escrito
a introdução...
situei-me no espaço e tempo..
a casa
o médico
e depois as meninas
ai que os dentes...
mas tudo se resolve e tudo lhe é servido se ele souber disser as palavras certas
parabéns... poucos textos na blog com tanta qualidade e realismo...
abrazo serrano
Voltou E teve o condão com a beleza deste texto que sem saber obrigou-me a voltar à minha adolescência.
Eu nasci num mundo muito parecido.
Um beijo miúda
José
Olha
Nem sei que te diga...
Ri a bom rir!!!
Textos assim, que nos aliviam a alma, é que são de ler e chorar por mais.
Beijo
pois.
gostei e vim às meninas :)
abrazo serrano
Originalidade nao falta a quem o escreveu e se foste tu os meus mais sinceros parabéns! =)
Bem, essa situação é tipica, mas há aquelas bem raras em que ainda podemos rir com elas, esta é uma dessas. lol
Beijinho grande* voltei!
Uma escrita que nos transporta para a acção. Senti-me como vivesse naquela casa. Gostei muito e que sejas bem vinda
Bjnh
Gostoso de se ler! Ótimo!!!
Beijos
Demais!
Eu me diverti lendo!
um beijinho
ahahahaah delicioso!
Lena, quero saber mais o que se passa na casa da D. Mimosa. Adorei, adorei, adorei,
Lena, quero saber mais o que se passa na casa da D. Mimosa. Adorei, adorei, adorei,
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